VEJA - FEV 2000 - QUER ENTRAR?

http://veja.abril.com.br/020200/p_068.html


Quer entrar? Tire a roupa
Depois da polêmica do topless, o Rio decide criaruma praia de nudismo, a oitava do Brasil
Rachel Verano, da Praia do Pinho

Sérgio Dutti
Pelados em Tambaba e as férias da família Roque (abaixo) : "sensação de liberdade"
Joel Rocha
A batalha que opôs mulheres partidárias do topless e a polícia fluminense nas praias do Rio de Janeiro há duas semanas terminou com vitória das moças, que ganharam licença para bronzear-se com seios desnudos. Na semana passada, a turma dos sem-roupa obteve nova vitória. O secretário municipal do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, Maurício Lobo, decidiu criar a primeira praia oficial para a prática de nudismo da cidade. O local escolhido é a Praia do Meio, uma faixa de areia com 200 metros de extensão no distante bairro de Guaratiba. É o Rio inovando outra vez na área dos costumes? Longe disso. A cidade do Rio, na verdade, está chegando atrasada ao peladismo nacional, da mesma forma que adotou o topless com atraso em relação à Bahia. A nova praia carioca de nudismo será a oitava oficial da categoria existente no Brasil.
Já existem 250.000 nudistas no Brasil, segundo a Federação Brasileira de Naturismo (termo preferido pelos praticantes por passar uma idéia filosófica ligada aos assuntos da natureza). Há cinco anos, esse número não chegava à metade. Os nudistas, em sua maior parte, ainda relutam em assumir publicamente o hábito. Temem a reação de colegas de trabalho, parentes e amigos mais conservadores. Além das praias de nudismo, já existem sítios, hotéis-fazenda, clubes e até um resort em plena Floresta Amazônica onde só se entra com os balangandãs de fora. Nesses lugares, famílias e grupos de amigos se reúnem para percorrer trilhas, dançar, praticar esportes, jogar sinuca e freqüentar restaurantes peladões, como vieram ao mundo.
A forma de se vestir, o tamanho do maiô, a vergonha de mostrar essa ou aquela parte do corpo fazem parte de um código de comportamento próprio de cada povo. Enquanto as americanas insistem no biquíni do tipo fraldão, nádegas de fora viraram coisa trivial nas praias brasileiras desde a invenção do modelo fio dental nos anos 80. Ou seja, o que vale num lugar não vale necessariamente em outro. Isso torna maior a curiosidade em torno do nudismo, um movimento que ignora barreiras culturais e cresce em todos os países. O primeiro campo oficial de nudismo foi aberto na Alemanha em 1906. Hoje, estima-se em 70 milhões o número de praticantes no mundo. Na hora de analisar os motivos que levam toda essa gente a andar pelada, mesmo a pessoa menos informada a respeito da prática do nudismo descarta imediatamente a motivação sexual, o impulso de exibir-se ou de observar libidinosamente pessoas do outro ou do mesmo sexo. A razão óbvia é que o erotismo exige certo mistério que a multidão pelada do campo de nudismo desbarata ao primeiro contato. Nada menos excitante do que um bando de marmanjos e marmanjas jogando vôlei com as prendas ao vento. Nos campos brasileiros de nudismo é proibido trocar carícias em público. Ter ereção, então, é uma transgressão gravíssima, mesmo que essa reação biológica esteja perfeitamente sintonizada com os ritmos da natureza. Mas não com os do naturismo, é bom esclarecer. Algumas associações proíbem a presença de solteiros para impedir a eventual visita de engraçadinhos.
O que buscam então os nudistas? "Quando você tira a roupa, despe-se também das amarras sociais", diz o presidente da Federação Brasileira de Naturismo, Celso Rossi. "Usar roupas é desconfortável e antinatural. Se está calor, não há motivo para se vestir. Pelados, estamos em contato maior com a natureza." Em áreas naturistas como a Praia de Tambaba, na Paraíba, o resort na Amazônia ou as pousadas e restaurantes da Praia do Pinho, em Santa Catarina, a rotina é parecida com a de destinos costumeiros de férias. A única diferença é a ausência de roupa. A Colina do Sol, no Rio Grande do Sul, é uma pequena vila como outra qualquer. Ali vive uma população fixa de setenta moradores, que chega a 400 pessoas nos fins de semana. Tudo é muito convencional, a não ser pelo fato de o traje obrigatório se resumir a um par de chinelos. O lado familiar dos campos nudistas pode ser verificado pelo perfil dos freqüentadores. Nestas férias, o gerente financeiro de Curitiba Valter Roque levou a família para passar alguns dias num condomínio de cabanas rústicas na Praia do Pinho. Foi a primeira vez que experimentaram o nudismo em público e pretendem repetir a experiência. "A sensação de liberdade é incomparável", diz Valter.

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